O orador: — Não me lisonjeia o beneplácito do colega. Recolho-me ao assunto, senhor presidente. Lastimo este luxo que vejo em Lisboa! Por toda a parte, oiro, pedrarias, sedas, veludos, pompas, vaidades! Parece que toda esta gente voltou ontem da Índia nas naus que trouxeram as páreas do Oriente! Essas ruas estrondeiam de carruagens, caleches e berlindas, como se cada dia se estivesse comemorando a passagem do cabo tormentório ou o descobrimento da terra de Santa Cruz, atirando às rebatinhas os tesouros que de lá nos vêm. Por entre estas soberbas carroças… Um deputado: — Carroças são de lixo. O orador: — E bem pode ser que seja lixo o que vai nelas… Por entre estas soberbas carroças, senhor presidente, vejo eu passar mal arrimados às paredes, e temerosos de serem esmagados, uns homens de aspecto melancólico, e mal entrajados. Nestes cuido eu ver D. João de Castro, que empenhou as barbas, e tem duas árvores em Sintra; Duarte Pacheco, que vai entrar no hospital; e Luís de Camões que vem de comer as sopas
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