Pedro Kilkerry - Ad veneris lacrimas





Pedro Kilkerry - Ad veneris lacrimas


Em meus nervos, a arder, a alma é volúpia... Sinto

Que Amor embriaga a Íon e a pele de ouro. Estua,

Deita-se Íon: enrodilha a cauda o meu Instinto

aos seus rosados pés... Nyx se arrasta, na rua...


Canta a lâmpada brônzea? O ouvido aos sons extinto

Acorda e ouço a voz ou da alâmpada ou sua

O silêncio anda à escuta. Abre um luar de Corinto

Aqui dentro a lamber Hélada nua, nua.


Íon treme, estremece. Adora o ritmo louro

Da áurea chama, a estorcer os gestos com que crava

Finas frechas de luz na cúpula aquecida...


Querem cantar de Íon os dois seios, em coro...

Mas sua alma - por Zeus! - na água azul doutra Vida

Lava os meus sonhos, treme em seus olhos, escrava.


Pedro Militão Kilkerry (1885—1917)

foi um jornalista e poeta simbolista brasileiro.